Em 2017, o Grupo de Estudos e Pesquisas Macondo: artes, culturas contemporâneas e outras epistemologias da UFRPE-UAST organizou a I Mostra de Cinema Indígena da UFRPE-UAST, o primeiro e único evento dessa natureza na região – vale endossar que esse evento foi realizado sem recurso de fomento algum, apenas com a garra e a boa vontade de cineastas, estudantes e docentes envolvidos. O evento surge no bojo da Lei n° 11.645/2008, que regulamenta a obrigatoriedade do Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena em todos os níveis de ensino (básico e superior). A aplicação efetiva dessa lei depende da capacitação de docentes e da existência e acessibilidade de materiais didáticos de qualidade que tratem da história e cultura indígena no Brasil em geral, e, em particular, sobre os povos indígenas que vivem e/ou viviam no Nordeste. Para tanto, uma das prerrogativas de legislação atenta para a implementação, nas licenciaturas, de disciplina voltada para o debate sobre as relações étnico-raciais, porquanto se faz basilar a formação de docentes com habilitação para adensar o ensino sobre a história e a cultura afro-brasileira e indígena. A UFRPE-UAST foi uma das primeiras universidades do Brasil a inserir no currículo das licenciaturas a disciplina de Educação para as Relações Étnico-raciais, que visa cumprir com o acesso a tais debates e formas de conhecer o mundo.
Contudo, é perceptível, dada a invisibilidade que essas discussões têm na vida social, que as 60 horas/aula da disciplina não são suficientes para preencher as lacunas da formação crítica e reflexiva quanto à temática. Diante disso, também é necessário preparar o corpo discente das licenciaturas para que trabalhem em sintonia com educadores e estudantes do ensino básico e médio, ajudem a implementar políticas públicas e contribuam em atividades de troca de saberes com diferentes setores da sociedade, no intuito de divulgar a produção científica e de saberes acadêmicos para universos além das próprias universidades e conhecer os saberes de outros grupos sociais. A partir desse cenário, a Mostra de Cinema Indígena irrompe como um projeto de ensino e extensão que busca contribuir para a efetivação da Lei n° 11.645/2008, já que está focada em possibilitar um intercâmbio de saberes entre estudantes, técnicos administrativos e professores da instituição com os povos indígenas do Brasil e entorno. Vale reforçar, ainda, que o estado de Pernambuco possui a quarta maior população de indígenas do país, totalizando 53.284 indivíduos divididos entre doze povos, distribuídos nas regiões do Agreste e do Sertão (IBGE, 2010).
Apenas no entorno do município de Serra Talhada é possível verificar a presença de uma ampla diversidade de povos indígenas distribuídos em nove etnias, a saber: Pipipã, em Floresta; Pankararu e Entre-Serras Pankararu, localizados entre Petrolândia, Tacaratu e Jatobá; Pancaiuká, em Jatobá; Pankará, em Itacuruba e Carnaubeira da Penha; Atikum, entre Salgueiro e Carnaubeira da Penha; Truká, nos municípios de Cabrobó e Orocó; e, por fim, Kapinawa, entre Buíque, Tupanatinga e Ibimirim. Diante desse cenário, constata-se uma população expressiva de indígenas que, por vezes, não é amparada pelo Estado brasileiro com relação aos seus direitos fundamentais, como o acesso à educação, saúde, mobilidade etc. Conhecer a ancestralidade, os saberes e as lutas desses povos é essencial não somente para o cumprimento da legislação, mas também como exercício da função social da universidade. É preciso formar profissionais atentos à diversidade cultural de seus contextos sociais, dialogar com a comunidade e abrir vereda para uma universidade de todos. Visto a importância dessa troca de experiências para a complementação da formação acadêmica, a atualização de discentes, docentes e técnicos administrativos e a interação entre universidade e comunidade (e vice-versa) no que condiz a temas de relevância filosófica, política, educacional e ética, faz-se necessária a elaboração de atividades que garantam o desenvolvimento do conhecimento e promovam uma formação ampla e interdisciplinar.
Por meio de nossa experiência com a Mostra de Cinema Indígena e a disciplina de Educação para as Relações Étnico-raciais, acreditamos que o cinema, em sua capacidade e potência de sensibilização, pode ser um importante corpus de trabalho para aproximar estudantes e professores de outros mundos possíveis, como o indígena, por exemplo. Vamos juntar forças e saberes para mapear a produção cinematográfica indígena de Pernambuco e disponibilizar o mapeamento das cinematografias em um site, visando facilitar o acesso de professores, estudantes, pesquisadores e das próprias comunidades indígenas ao acervo de produção audiovisual. Neste sentido, nos inspiramos em um projeto muito interessante o qual tivemos a oportunidade de acompanhar de perto em diálogos com a comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, em Salgueiro, município próximo à Serra Talhada. Nos últimos anos, a comunidade, junto com uma sorte de pesquisadores, trabalhou para a construção de um acervo de cinematografia das populações quilombolas do estado, no site Tankalé – Acervo Audiovisual Quilombola de Pernambuco. A experiência bem-sucedida do projeto Tankalé nos mostra que a oportunidade de se comunicar também com o vídeo e de preservar memórias audiovisuais é estratégica para os povos tradicionais, quilombolas e indígenas, pois o acesso a esses conteúdos pelas atuais e futuras gerações pode colaborar com a continuidade de lutas ancestrais pelos direitos à terra, à vida, à saúde, à educação e à liberdade, entre tantos outros negados ainda hoje aos quilombos e aos indígenas brasileiros.
Assim, de forma coerente com os princípios éticos do nosso projeto, que busca autonomia e valorização da perspectiva indígena, o mapeamento procurará disponibilizar os links das plataformas nas quais as obras estão alocadas, no intuito de garantir que, com as visualizações a partir do site, essas plataformas monetizem os coletivos indígenas de produção audiovisual. Também estarão acessíveis reflexões socioantropológicas realizadas pelas próprias comunidades sobre as obras cinematográficas.
Vale endossar que esta pesquisa, vigente desde 2021, foi contemplada no edital da FACEPE no 29/2021- Estudos Étnico-Raciais Solano Trindade, em fevereiro do corrente ano. Dessa forma, temos as condições financeiras e estruturais para concluir o projeto, inclusive, com uma bolsista da FACEPE. Temos um outro estudante de iniciação científica, que é bolsista do PET e já vem trabalhando na pesquisa desde o ano passado como voluntário. Também contamos com a colaboração de um estudante do doutorado em Educação da UFPE na equipe e temos disponibilidade para agregar mais pesquisadores de pós-graduação. A pesquisa de mapeamento em questão dá conta de uma série de frentes importantes de um trabalho desse porte: contribui à difusão do conhecimento sobre as populações indígenas na educação básica e superior (amparada nas demandas da lei 11.645/2008); encoraja a produção e circulação de obras de cineastas indígenas no Estado e fomenta a produção científica a partir de saberes locais no interior do Estado, em diálogo com universidades do litoral (UFPE e UFRPE - Recife), fortalecendo instituições de educação básica, superior, assim como de educação popular e não formal. Temos aqui uma proposta de trabalho possível, em função de sua fácil adequação de metas: possuímos estrutura física para desenvolvimento das atividades, o trabalho pode ser desenvolvido remotamente em cenário de arraigamento da pandemia de Covid-19 e os prazos são viáveis para uma pesquisa de mapeamento em contexto local. Soma-se à isso os recursos para financiamento recém adquiridos em contemplação no edital da FACEPE.
Outro aspecto pertinente, é que esta pesquisa visa explorar sendas teórico-metodológico-epistemológicas que problematizam as narrativas “exemplares” e “hegemônicas” da sociologia, as quais tendem a ler os processos sociais em uma perspectiva linear, além de tomar como parâmetros de análise as experiências de uma pretensa modernidade que, contudo, não é homogênea nem generalizável. A ideia aqui é dialogar com aquilo que tem sido denominado de “sociologias emergentes”, mas que são proposicões teórico-metodológicas que existem há muito tempo, porém, invisibilizadas na conformação do campo. Desse modo, uma mapeamento dessa sorte, que dialoga com saberes interculturais, postula que os conceitos não servem para minimizar as ambiguidades e instabilidades da vida social, racionalizando-a ao ponto de substituir o real pelo “hiper-real”, nem a sociologia ganha ao criar uma suposta intersubjetividade que, em verdade, exclui interlocutores. Ao privilegiar, portanto, as teorias do Sul, a crítica pós-colonial, a Ecologia dos Saberes, os Estudos Culturais bem como o “giro decolonial” latino-americano e os feminismos decoloniais, almeja-se promover a investigação de relações, eventos, dinâmicas e sistemas que jamais couberam nas categorias modernas hegemônicas e, com isso, ampliar o alcance ontológico da disciplina.
Assim, os resultados desse mapeamento poderão ser aplicados em várias perspectivas, desdobrando-se em investigação acadêmica/científica, assim como corroborando à construção de patrimônio e da memória das comunidades indígenas. Para tanto, computamos uma equipe intercultural (composta por indígenas e não indígenas), qualificada, experiente e dedicada à execução e ao desenvolvimento das atividades propostas.
É graduando em Licenciatura Plena em Letras – Português e Inglês pela UFRPE-UAST. Colaborador do Grupo de Pesquisa Macondo: Artes, Culturas contemporâneas e outras epistemologias. Discente institucionalizado no Programa de Educação Tutorial/Conexões de Saberes – Comunidades Populares da UFRPE-UAST. E foi bolsista voluntário do Programa de Iniciação Científica da UFRPE (2018-2022) com interesse nos seguintes temas: pedagogia, epistemologias ameríndias e cinema indígena.
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Doutorando em Educação (PPGEdu/UFPE), Mestre em Educação, Culturas e Identidades - (FUNDAJ/UFRPE). Graduado em Licenciatura Plena em Letras (UFRPE/UAST). Atualmente é professor de Artes/Literatura da Fábrica de Criação Popular/SESC Triunfo. É membro do GPECAE (Grupo de Pesquisa em Estudos Culturais e Arte/Educação- FUNDAJ/UFRPE); membro do MACONDO (Grupo de Estudos em Artes, Culturas Contemporâneas e Outras Epistemologias -UAST/UFRPE) e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Foucault e Educação: Reverberações e Ensaios de Pensamento (PPGEdu/UFPE). É Drag Queen, performer e desenvolve pesquisas, estudos e intervenções artístico/literárias a partir das relações entre gênero, identidades, sexualidades, masculinidades, cultura Queer, memória e pertencimento no Sertão do Pajeú.
É graduada em Letras Português/Inglês pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Foi bolsista no programa de Iniciação Científica entre 2019 e 2021, com pesquisa voltada para um ensino intercultural e feminista da língua inglesa. Foi voluntária no programa de Residência Pedagógica. Atualmente se dedica aos estudos voltados para a literatura afro-brasileira e africanas. É integrante do grupo de pesquisa Macondo: Artes, Culturas Contemporâneas e outras Epistemologias da UFRPE, com dedicação no momento a pesquisa Conexão Pindorama: mapeamento dos cinemas indígenas de Paranãmbuko. Junto a isso, é integrante do grupo de pesquisa DADÁ – UFRPE, também com pesquisa em andamento sobre violência contra as mulheres rurais, ambas as pesquisas financiadas pela FACEPE.
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É mãe, servidora do Tribunal de Justiça de Pernambuco e mestranda em Sociologia pela UFPE, pesquisando a temática dos cinemas indígenas. Graduada em Direito pela UFPE (2013). Possui especialização em Direito Penal e Direito Processual Penal pelo Damásio Educacional (2016). Foi advogada voluntária junto ao Defensor Regional de Direitos Humanos da Defensoria Pública da União em Pernambuco nas temáticas de Comunidades Tradicionais (Indígenas e Quilombolas) e Direito Ambiental.
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Doutora e Mestra em Sociologia (PPGS-UFPE). Há uma década é professora e pesquisadora da UFRPE-UAST, onde coordena o grupo de estudos e pesquisas Macondo: artes, culturas contemporâneas e outras epistemologias. Desde o início de 2023 é professora do quadro permanente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPE. É curadora e organizadora da Mostra de Cinema Indígena da UAST-UFRPE e da Sessão Kilombo. Estuda, edita e publica zines e livros cartoneros de maneira independente. É uma das pontas do tripé que sustenta a Baleia Cartonera, editora de livros artesanais que já publicou obras de Graça Graúna Potiguara e Juliano Varela. Como escritora, em 2019, participou da coletânea de poetas feministas Profundanças 3 e, em 2020, lançou sua primeira novela “Os cheiros do vento sul”.
É sociólogo, professor, pesquisador, músico e agitador cultural. As suas pesquisas, projetos de extensão e publicações dos últimos dez anos refletem o interesse pelos fenômenos artístico-culturais contemporâneos. Cursou o bacharelado em Ciências Sociais (2007), assim como o mestrado (2010) e doutorado (2016) em sociologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É professor adjunto de sociologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UFRPE-UAST). Seu envolvimento com a sociologia - e sua intensa produção artística - possibilitou a construção de ações junto aos coletivos de Artes Integradas do Sertão do Pajeú/PE (Berro e Mangaio). É vice-coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas Macondo: artes, culturas contemporâneas e outras epistemologias. Atua, principalmente, nas seguintes áreas: Sociologia da Cultura, Sociologia da Educação, Sociologia da Arte, Sociologia da Comunicação e Sociologia Rural.
Artista Visual, Tiniá é pertencente aos povos Guarani-Kaiowá e Pankararu, vive no território Pankararu, em Pernambuco. Desde muito novinha, acompanha seus pais pelos movimentos de cultura/audiovisual pelo país afora. Com apenas 10 anos de idade fez sua primeira exposição online, de suas pinturas em tela. Tiniá também atuou como artista no longa-metragem “Horizonte Colorido” e no filme de experimentação artístico “Xe Ñe’e”, ambos dirigidos por Graciela Guarani.
NEAB – UFRPE (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal Rural de Pernambu
Detentor dos saberes tradicionais e populares. Liderança religiosa da Aldeia Tapuio, sertão do Pajeú, Pernambuco. Mestre em cultura indígena do sertão de Pernambuco. Militante das causas indígenas. Licenciado em História e Pedagogia.
Mãe solo, sertaneja, indígena e quilombola da comunidade Pau de Leite, em Mirandiba-PE. Embora nunca tenha estudado artes visuais, sempre teve o prazer de desenhar, criar e dar cor ao papel. Hoje se dedica a produzir tintas orgânicas para dar vida as suas aquarelas e, assim, repassar seu conhecimento para crianças na sua região.
Sou Graciela Guarani, do povo Guarani Kaiowá. Nascida e criada na aldeia Jaguapiru (MS), atualmente moro na Terra Indígena Pankararu (PE). Trabalho como produtora cultural, diretora, roteirista, curadora e educadora em audiovisual. Sou uma das pioneiras em produções indígenas no audiovisual brasileiro. Já dirigi e escrevi o roteiro de diversos filmes. Entre eles, se destacam o longa documental premiado internacionalmente “My Blood is Red” (2019) e as vídeo-cartas “Nhemongueta Kunhã Mbaraete” (2020). Fui autora no especial da rede Globo “Falas da Terra”, integro o time de direção da segunda temporada da série da Netflix “Cidade Invisível” e sou chefe de roteiro do game “Entre as Estrelas”, produzido pela Split Studio. Fui formadora no curso “Mulheres Indígenas e Novas Mídias Sociais – da invisibilidade ao acesso aos direitos”, realizado em 2019 pela ONU Mulheres e pelo TJ/MS, em Dourados. Atuei como cineasta facilitadora na oficina de cinema “Ocupar a Terra, Ocupar a Tela: Mulheres, Terra e Movimento”, produzida em 2019 no Rio de Janeiro pelo IMS e pelo Museu do Índio. Também fui convidada como debatedora da mesa redonda Internacional de Mulheres na Mídia e no Cinema na 70ª Berlinale, Berlin International Film Festival, 2020.
Colaborei com o livro Empoderadas Narrativas Incontidas do Audiovisual Brasileiro, que reúne ensaios entrevistas e artigos de mulheres negras profissionais do cinema de diversas gerações.
Mulher, mãe, avó. Indigena do povo potiguara/RN. Fez Letras na UFPE, com mestrado e doutorado sobre literatura indígena. Pós-doutorado em Literatura, Educação e Direitos indígenas, pela UMESP. Professora da UPE, no curso de Ciências Sociais. Escritora e autora do blog “Tecido de vozes” (WordPress).
Diretor de cinema, Me. em linguística PPGLL-UFAL, escritor, ativista, professor e cineasta indígena idealizador do Coletivo Fulni-ô de Cinema.
Nasceu em Guarulhos – SP, mas aos 3 anos de idade se mudou para Triunfo – PE para morar com sua mãe e seus avós em um pequeno sítio. Desde de pequena sempre foi fascinada por história e não demorou muito para querer entender como tudo funcionava e o porquê das injustiças do mundo, ela atribui isso ao fato de sua avó sempre colocá-la para assistir jornal ao invés das novelas infantis, além de todo o estímulo que sua mãe lhe deu para gostar de ler. Atualmente é graduanda do curso Bacharelado em Ciências Biológicas na UFRPE/UAST e ama o trabalho de pesquisadora. Participa do projeto Pindorama estudando o cinema indígena e é estagiária do LaQaF (Laboratório de Química Aplicada e Fitoterápicos) que trabalha com plantas medicinais e como os povos tradicionais fazem o uso dessas plantas para o tratamento de enfermidades.